sexta-feira, 18 de junho de 2010

E foi-se o homem...

A morte de Saramago me emocionou, assim como a sua obra (o pouco que li, é claro)...

O único ganhador de um prêmio Nobel a escrever em português, deixou-nos no fim da manhã de hoje, "despedindo-se de forma serena e tranquila"...uma grande e irrefutável perda, pois.

Recentemente me encantei com a filmagem de "O ensaio sobre a Cegueira", o primeiro livro que li do autor e, ao ver sua reação após assistir pela primeira vez ao filme feito pelo brasileiro Fernando Meirelles, confesso que meu encantamento só fez aumentar...falo isso pela declarada e inescondível humanidade do homem por detras da obra, do prestígio, do sucesso e do reconhecimento mundial...vale muito a pena ver:



Por fim...um pouco de poesia...

Um forte abraço a todos!
Prof. Carol

Retrato do poeta quando jovem

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

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